Exame de olho é mais eficaz que ressonância para detectar AVC
Um exame dos movimentos dos olhos do paciente, com duração de um minuto, é mais eficaz do que a ressonância magnética para detectar um tipo de AVC (acidente vascular cerebral), concluiu um estudo da Universidade Johns Hopkins (EUA), publicado na revista científica “Stroke”.
Para os neurologistas, os resultados são inovadores, mas precisam ser confirmados em testes de maior escala e se aplicariam apenas a uma parcela de pacientes em que o derrame apresenta sintomas semelhantes à labirintite (tontura e náuseas, por exemplo).
O estudo americano avaliou 101 pacientes. O teste ocular diagnosticou corretamente todos os casos de AVC. Já a ressonância falhou em oito casos.
O teste ocular é preconizado porque pacientes que estão tendo um derrame podem ter alterações no movimento dos olhos. Alguns não conseguem ajustar imediatamente a posição dos olhos se sua cabeça for movida rapidamente para o lado, ou apresentam movimentos desconexos quando tentam focar um objeto.
Editoria de Arte/Folha Imagem
No estudo, os pacientes foram submetidos a três testes de movimento ocular. Um deles avaliou a incapacidade de a pessoa manter os olhos estáveis quando a cabeça era girada rapidamente para os lados.
Também foi observado se ocorriam movimentos aleatórios dos olhos quando os pacientes acompanhavam o dedo do médico. Por fim, verificou-se se um dos olhos ficava elevado em relação ao outro.
Após o teste, cada paciente foi submetido a uma ressonância magnética. No final, 69 pacientes foram diagnosticados com derrame e 25 com problemas no ouvido interno. O restante apresentava outros problemas neurológicos.
Utilizando apenas o exame dos movimentos dos olhos, os pesquisadores diagnosticaram corretamente todos os casos de AVC e 24 dos 25 casos de labirintite. Por outro lado, o exame de ressonância deu falso-negativo em oito dos 69 pacientes com derrame. O erro foi sanado com um segunda ressonância -providência adotada nos casos em que o primeiro exame não havia constatado o AVC.
Mesmo reconhecendo que o número de pacientes avaliados é pequeno, pesquisadores da Johns Hopkins estão otimistas com os resultados, especialmente pela precisão e pela redução de custos que o teste ocular representaria.
“A ideia de que um teste na cama possa superar um moderno exame de neuroimagem como a ressonância magnética é algo que a maioria dos médicos diria ser impossível, mas nós mostramos que isso é possível”, afirma David Newman-Toker, um dos autores do estudo.
O neurologista Mario Peres, do hospital Albert Einstein, considera o estudo americano “interessante e inovador”, mas diz que o número de pacientes avaliados é pequeno para qualquer conclusão. “É um pouco simplista achar que um exame ocular pode resolver todo o quadro diagnóstico do AVC.”
O neurocirurgião Eduardo Mutarelli, dos hospitais Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz, concorda. Para ele, o teste ocular não substituirá a ressonância magnética e tem aplicação apenas para um tipo de AVC, que acomete funções centrais do labirinto e que, às vezes, é confundido com labirintite.
“Nesses casos, o teste ocular é muito importante porque a ressonância só detecta [o problema] de 24 a 36 horas depois”, observa o médico.
Mutarelli diz que o estudo deve servir de alerta para que médicos façam o teste ocular e não desprezem as queixas de pacientes imaginando se tratar de uma labirintite. “Eles não podem confiar apenas na ressonância. A cada semestre, recebo pelo menos um caso de paciente que passou por hospitais bacanas, estava tendo um AVC, mas foi mandado para casa com diagnóstico de labirintite.”
Segundo Peres, tonturas são de difícil diagnóstico na neurologia. Podem ser originadas de alterações metabólicas, circulatórias, labirínticas, visuais e também um sintoma do AVC. “O diagnóstico não se baseia só no exame ocular, mas sim em todo o exame neurológico e história clínica, e caso necessário, utilizamos as informações que a ressonância pode nos dar.”
CLÁUDIA COLLUCCI da Folha de S.Paulo
12/10/2009 – 11h04 – Folha de São Paulo – Caderno Equilíbrio
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